Hoje é o Dia Mundial da Saúde, uma data importante para falarmos sobre como desenvolver um novo olhar para a saúde das crianças. E para falar sobre as Práticas de Auto Cuidado – PAC – trabalho que já é realizado no Instituto Toca desde 2011 e agora está sendo aplicado no projeto da Escola Municipal Dulce -, convidamos a naturóloga e coach Sílvia Breim.

– O que é PAC e qual seu principal objetivo?
Sílvia: PAC são Práticas de Auto Cuidado. São encontros realizados com os professores, auxiliares e equipe da cozinha da escola, focados no desenvolvimento do auto conhecimento e percepção de si, a partir do uso das terapias naturais. A ideia é possibilitar momentos de suspensão das tarefas diárias para que olhem para si, se repensem em seus hábitos e encontrem novas maneiras de ser e estar no mundo e com as crianças. São mudanças de hábitos simples, mas que ajudam a ter uma vida mais regenerativa e conectada.
Este trabalho é uma das ferramentas que usamos, aliado a reuniões de equipe transdisciplinar, para ajudar o professor a desenvolver um novo olhar para as crianças, a partir dessa noção de que todo ser humano é complexo, a começar por eles mesmos. Entendemos que cada ser é único e tem suas particularidades e, por isso, buscamos compreender a criança em sua integralidade, não comparando-a com as outras, mas respeitando o tempo, o perfil e as necessidades de cada um. Desenvolver uma visão holística do ser humano, que contemple não só a saúde física, mas também a emocional, social, cultural, mental e supra mental é fundamental para que possamos contribuir com o desenvolvimento integral das crianças.
Tudo que a criança manifesta tem a ver com essa multidimensionalidade. Quando temos uma criança que chora muito, que tem dificuldade em focar em uma atividade ou de construir vínculos sociais, por exemplo, não significa que ela tenha uma doença e que precise de medicação. O que aplicamos aqui é esse olhar mais complexo, sem julgamentos, para entender o que de fato aquela criança está manifestando e necessita naquele momento, afim de que possamos pensar nas melhores intervenções para contribuir com o seu desenvolvimento.
– O contato com a natureza ajuda nesse tratamento?
Silvia: Com certeza. Toda ferramenta ou estratégia que promova uma interferência positiva no desenvolvimento da criança é bem vinda quando pensamos em Desenvolvimento Integral. Estar na natureza permite que as crianças desenvolvam competências, habilidades e uma visão de mundo que dificilmente uma sala de aula fechada possibilitaria. Quando a criança está na natureza, ela entra em consonância com um ritmo natural, que é o próprio ritmo da vida e isso contribui significativamente para sua organização interna. Permite a ela que esteja mais equilibrada, assim como intrinsecamente a natureza faz. Afinal, nós somos natureza também, então é normal que essa relação de completude se manifeste.
– Desde que começou o programa, quais diferenças você notou nas crianças e nos professores?
Silvia: Quando começamos o trabalho na escola, tivemos um grande desafio que era desconstruir essa ideia de que, se a criança apresenta um problema, precisamos de um laudo médico ou de um remédio para tratá-la. Com o tempo, a equipe foi se empoderando dessa visão multidimensional do ser humano. ou a ser comum não mais comparar a dificuldade de certa criança com a “normalidade” das outras; aram a fazer o comparativo entre o modo como a própria criança era ao entrar na escola, e como ela foi se desenvolvendo ao longo do tempo, a partir das intervenções pensadas e aplicadas pela equipe. Um trabalho muito respeitoso com o tempo, as necessidades e particularidades de cada uma.
Hoje, o que vemos é uma equipe muito mais madura, resiliente, menos julgadora e extremamente disposta a acompanhar caso a caso com muito carinho e cuidado. Com isso, muitos pais também mudaram a forma de enxergar as dificuldades que identificavam em seus filhos. Percebemos que confiam muito no trabalho que desenvolvemos com cada uma delas aqui dentro.